Uma das coisas mais belas do cinema, e de qualquer arte, é poder observar os diferentes tipos de estilo, características, formas, técnicas que são utilizadas pelas pessoas de uma determinada região ou até mesmo a singularidade de cada um, que acabam apropriando os estilos aprendidos. É prazeroso ver as diversas interpretações ou adaptações acerca de assuntos recorrentes na sociedade e transpassam isso para o público de formas completamente diferentes.
No dia 12 de setembro houve a Abertura Oficial do 21º Vitoria Cine Video, evento destinado a exibição de curtas e longas-metragens brasileiros. No primeiro dia do evento, os telespectadores puderam ver cinco curtas capixabas, participantes do 3ª Mostra Foco Capixaba.
Dirigido por Vitor Graize, Vitória F.C., primeiro curta exibido da noite, conta um pouco sobre a trejetória do clube mais antigo do Estado do Espírito Santo no ano de seu centenário. A partir de planos detalhes, com a câmera fixa, e sons ambientes, o filme mostra o cotidiano do clube, durante sua participação na final do campeonato estadual de 2012. Uma forma sensível e bela de se homenagear – não somente um clube, mas sim o próprio futebol – dando ênfase aos detalhes que fazem deste esporte a maior paixão dos brasileiros.

Seguindo praticamente a mesma linha estética, Desfragmentos conta sobre o Cemitério de Azulejos, local de despejos de pisos e azulejos. Usando dos mesmo elementos do curta descrito acima, mas com alguns depoimentos, o filme mostra um pouco o lado cômico do local – muitas pessoas confundem com um cemitêrio de pessoas -, e, também, a importância que esses objetos, que para muitos soam descartáveis, para outros são artifícios que possuem muita história. E a frase “onde tudo acaba, começa uma nova história”, dita em um dos depoimentos, se encaixa perfeita em um dos planos que Melina faz, ao mostra um corredor cheio de azulejos, que escurece, mas que possui uma luz no final.
A única animação da noite, Saia, fala um pouco sobre os abusos que as mulheres sofrem. A começar pelo nome que tem dupla conotação: saia (vestimenta) e saia (verbo intransitivo), Davi de Jesus Cáo, de uma forma psicodélica e cheia de mensagens, consegue impactar ao retratar os assédios e a objetificação da mulher.

O quarto curta da noite, Pela Janela, dirigido por Diego de Jesus, começa mostrando a personagem principal olhando a janela e depois um close de seu rosto, nos indicando que o filme será de sua perspectiva. Acompanhamos seu dia-a-dia; as ligações denunciando os vizinhos que brigam, a espera pelo namorado e sua preocupação com uma mulher que a segue. Apesar de ser o que menos gostei da noite, achei interessante a técnica usada durante o interrogatório: o som da máquina de datilografar ao fundo, causando aflição ao telespectador, levemente vai sumindo e sendo substituindo por um som agoniante no clímax da cena.
Encerrando a noite, veio Léo Alves, com seu curta de estreia, Pássaros de Papel. Jaime, um fotógrafo, passa por um momento reflexivo, decide voltar para casa onde cresceu e relembra de onde surgiu sua paixão por fotografia. Com uma fotografia que oscila entre as paletas colorida, amarronzada e azulada, nos indicando a passagem de tempo, Alves consegue de uma forma sensível, nos mostrar a importância que a fotografia tem em nossas vidas. Denotando como elas podem adquirir o aspecto de memória, não somente para o fotografado, mas também para o fotógrafo.
O mais importante da noite não é pensar em quem pode ou não ganhar o Troféu Marlin Azul de Melhor Filme, mas sim apreciar a direção que o cinema capixaba está indo, a sua estética e estilo. Mais um indício para aqueles que adoram apertar a tecla de que o cinema brasileiro é fraco e que o Espírito Santo não tem cinema. Não é preciso argumentar, apenas mostrar esses cinco curtas. Fico feliz de ver, não apenas bons filmes, mas sim que a produção está crescendo. O importante na verdade é esse: produzir filmes.